Lugo: Rúa San Roque
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Lugo: Rúa San Roque

Espazo biográfico

Preto da porta de San Pedro, no 14, 1º da rúa San Roque de Lugo, vivía a familia política de Ricardo. María estudara no Colexio da Milagrosa e coincidira no instituto con Fole e Cunqueiro. O Pai de María falecía en 1944. Ricardo viviu nesta casa, logo na rúa do Bo Xesús e finalmente en Fingoi, ao carón do Colexio. Escollemos unhas fermosas palabras de Ricardo que pintan con amor a cidade das murallas.

“E em festas e vacaçons costumava passar dias ou semanas de lazer numha casa próxima à porta de Sam Pedro, na rua de Sam Roque, perto da capela da mesma advocaçom.

Lugo, alta acrópole de claridades e purezas, como lhe chamou Otero Pedraio, surprendia-me polos seus duros invernos, que às vezes registam as temperaturas mínimas entre as capitais peninsulares. Aos meus olhos de neno, as lajes de piçarra que cobriam os teitos dos edifícios, o mesmo os públicos que os privados, o mesmo a igreja catedral –primeira que vim na vida- que as casoupas arrabaldeiras ou campesinas, infundiam à paisage urbana umha vaga tristeza grisalha. Senhores constipados e reumáticos fardados em samarras guateadas, cregos abufandados, moças de rostos amoratados com as pernas enfundadas em calcetas de lá, povoavam umha cidade onde o gelo e a neve eram umha presença imperante num duro inverno continental de atmósfera mui distinta à húmida, mas lene, do meu porto natal.

O peso eclesiástico, fidalgo e artesao de Lugo, centro de umha economia gadeira e agrícola muito mais natural que a economia burocrática e industrial dos funcionários e técnicos que rodeavam a minha neneaz, puxo-me em contacto com realidades da vida galega apenas perceptíveis para um observador infantil nas formas de vida mais estratificadas e convencionais que constituíram o meu primeiro entorno.

Lugo resultava um mundo novo, mais enraiganhado no entorno rural. As suas abraiantes muralhas falavam certamente de um passado militar; mas esse passado era remoto, e ja só arqueologicamente presente. Mais preservada da influência forasteira, Lugo aparecia-se-me como umha capital silenciosamente encravada desde sempre no torrom labrego. Lugo era um mercado, desvanecida a tradiçom romana de campamento militar, mas conservando, nom só o recinto fortificado, senom outros vestígios do traçado castrense, juntamente com os restos arqueológicos próprios da capitalidade de um convento jurídico.

Os estratos sociais eram os mesmos que constituíam a estrutura social na província, de jeito que a capital oferecia-se aos meus olhos como um núcleo de coordenaçom espontánea das terras que a rodeavam. Ainda polos anos vinte, a aristocrácia de sangue, integrada por fidalgos, rara vez titulados, com poder económico baseado na propriedade agrícola, e poder político derivado desse poder económico, dominava a vida da capital em artelhada harmonia com a autoridade dimanante do paço do Bispo.

Assi, Lugo foi para mim a primeira cidade de Galiza que se apresentou como expressom urbana da nossa terra, como esta seria na sua vida espontánea, independente das instalaçons militares ou das afluências turísticas.

 

“Quinze anos em Lugo", 113-121, Letras galegas (A Coruña: AGAL), 1984. Conferencia no Centro Lucense de Buenos Aires pronunciada o 25 de xullo de 1974.